Breve histórico da Venerável Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês

A Venerável Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês, da Paróquia da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar, foi fundada na década de 1740, sendo São João del-Rei ainda Vila.

Denominou-se inicialmente Irmandade de Nossa Senhora das Mercês dos Pretos Crioulos e uma das suas principais atividades fora da parte espiritual era a criação de fundos financeiros para alforria de negros escravos e também a assistência aos irmãos em necessidades.

A ela se filiavam os homens, pretos crioulos e negros escravos, porém aberta aos brancos pois não podia vetar-lhes o ingresso. Foram os irmãos mercedários os promotores da construção da capela dedicada à patrona da irmandade, Nossa Senhora das Mercês, cujos padres da Congregação Mercedária já estavam estabelecidos na região litorânea do país desde o século XVII. Sendo proibida a instalação de religiosos congregados nas Minas Gerais foram, então, criadas irmandades leigas que difundiram a devoção mariana à Nossa Senhora das Mercês.

Sabe-se que em 1740 já pleiteavam terrenos para construir o patrimônio da irmandade e iniciaram a construção da capela, obra que arrastou-se por longos anos dada a precariedade de recursos. Há informações históricas que o formato original da capela de Nossa Senhora das Mercês era arredondada a exemplo da “ Rotunda de Roma “, segundo relato do historiador são-joanense José Antônio Rodrigues. Não restou nenhum desenho do projeto original e são mínimas as informações a esse respeito. Em 1751, na História do Distrito do Rio das Mortes, o Sargento-Mor José Alvares Maciel já mencionava da Capela de Nossa Senhora das Mercês.


No início do século XIX, por volta de 1808 a igreja passou por reformas e no terceiro quartel desse século, decide-se por uma ampla reconstrução e ampliação, graças ao importante mesário tesoureiro, João da Silva Mourão, grande benfeitor da Arquiconfraria. Iniciada as obras em 1871, foram concluídas em 1877 e a 4 de setembro com grandes solenidades houve a benção e inauguração da nova igreja. Para a inauguração o compositor são-joanense Padre José Maria Xavier, também irmão mercedário, compôs as Vésperas Solenes de Nossa Senhora das Mercês. Segundo consta o risco ( desenho ) da nova fachada feito por Venâncio José do Espírito Santo, notável pintor e encarnador de imagens. Nesta reconstrução foi confiado ao grande músico e escultor Luiz Baptista Lopes, também mercedário, a obra de talha interna – retábulo-mor e altares laterais – substituindo a antiga; foi também o pintor do teto da nave, pintura hoje desaparecida, que constava de medalhão central e dois quadros com São Pedro Nolasco e São Raimundo Nonato.


Em 1765, foi elaborado o compromisso ( estatuto ) em cuja página inicial consta: Compromisso da Irmandade de N. S. das Mercês dos Pretos Crioulos; encorporada na sua capella, que eles edificarão, ornarão, e paramentarão com licença Regia na Villa de São João d’ EL Rey comarca do Rio das Mortes, Bispado de Mariana da Capitania de Minas Gerais, Instituido no ano de 1765.”


Em princípios do século XIX, mais precisamente no ano de 1806, Dom João, então Príncipe Regente de Portugal, futuro Dom João VI, reconhece e aprova o compromisso, acolhendo o parecer da mesa da consciência e ordens, sem nenhum embargo de qualquer capítulo. A 23 de novembro de 1806, o Padre Diretor da Irmandade, Pe. Carlos Francisco Ribeiro, de posse do Compromisso aprovado, toma o juramento dos mesários de cumprimento de todas as leis do compromisso.

Em 1830 pleiteiam breve pontifício que elevasse a Irmandade à categoria de Ordem Terceira, a exemplo do acontecera com a Irmandade do Rio de Janeiro. Existe, anexada ao Compromisso original, cópia do documento concedendo à Irmandade do Rio de Janeiro o privilégio de Ordem Terceira, traduzido para o vernáculo, porém sem especificar se o mesmo privilégio foi concedido à Irmandade de São João delirei, A partir de 1841, conforme documento anexo ao Compromisso, é elevado ao título de Confraria.

Na década de 1920, como Confraria de Nossa Senhora das Mercês, a mesa administrativa pelo então secretário, José Vicente de Azevedo, requereu ao Arcebispo de Mariana, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, a retomada de algumas solenidades e festas que não mais se celebram, como a Procissão do Santíssimo Sacramento em 1º de Janeiro, precedida de Missa Solene e concluída com Solene Te Deum Laudamos. Não concordando com certos aspectos, Dom Helvécio mandou recolher ao Arquivo Arquidiocesano o Compromisso Mercedário são-joanense.

No dia 15 de Janeiro de 1885, a Confraria de Nossa Senhora das Mercês foi agregada à Ordem Mercedária e elevada a Arquiconfraria e, em 28 de Janeiro de 1953, o Padre Geral da Ordem Mercedária, concede privilégios e indulgências reafirmando no documento a agregação e elevação a Arquiconfraria feita 1885.

Em 1952, a 14 de março, o Bispo Auxiliar de Mariana, Dom Daniel Tavares Baêta Neves , por delegação do arcebispo Dom Helvécio Gomes de Oliveira, aprovou um novo Estatuto, elaborado pelo Reverendíssimo Padre Osvaldo Rodrigues Lustosa, então Padre Diretor da já Arquiconfraria de Nossa Senhora das Mercês, junto com a Mesa Administrativa de 1951.
Este Estatuto é que prevaleceu até o presente.

Hoje já está obsoleto em vários aspectos, fazendo-se necessária a elaboração de novo Estatuto condizente com as novas normas da Igreja e a participação de Leigos na sua administração e sua composição dentro da estrutura paroquial.

Para tal, foi construído o Compromisso de 1806, do qual foram extraídos subsídios históricos, especialmente das festas a serem celebradas e conservados alguns aspectos da primitiva Irmandade e o Estatuto de 1952. Para o novo estatuto foram uniformizados alguns capítulos para que fique coerente com os demais estatutos das outras irmandades e de confrarias sediadas na Paróquia da Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar e da cidade de São João del-Rei.